terça-feira, 29 de maio de 2007

Notas latino-americanas

.
Uma ilha do Caribe

por Mário Augusto Jakobskind, jornalista e escritor. 19.05.07

Havana - Cuba é uma caixa de surpresas. Em cada esquina de Havana podemos tomar conhecimento de coisas inusitadas como, por exemplo, alguém circulando com uma camisa da seleção brasileira (tem muito por aqui) perguntar sobre Ronaldinho e assim sucessivamente.

Se algum jornalista estrangeiro tentar cumprir uma pauta do tipo "Cuba sem Fidel" ou "como está a ilha sem Fidel", vai estranhar. Ou seja, há uma total normalidade. O país segue o seu caminho tentando superar as dificuldades, que, diga-se de passagem, não são poucas e boa parte delas foram causadas pelo bloqueio estadunidense, que já perdura quase 45 anos.

Se em Miami os cubano-americanos imaginam que ainda terão chances de recolonizar o país junto com quem lhes dá abrigo, vão mais uma vez se frustrar. Você sai na rua aqui e pergunta às pessoas sobre Fidel; todos, praticamente sem exceção, respondem que a Revolução continua com o Comandante ou sem ele.

Yankees não têm vez
As conquistas sociais por aqui, dizem os entrevistados, não sofrerão nenhum tipo de retrocesso. Não há dúvidas nesse sentido. Aqui yankee não tem vez... Quando se fala do plano de democratização do Bush, o pessoal ri, e depois fala sério, dizendo mais ou menos o seguinte: "Cuba jamais voltará a ser uma colônia! É isto que quer esta gente do mal".

Para fazer reportagem por aqui, como no meu caso, o jornalista estrangeiro precisa se credenciar no Centro de Imprensa Internacional do Ministério das Relações Exteriores. É só dizer o que pretende que receberá a autorização para fazer o que quiser. Tem algumas regras básicas. Não dá para filmar áreas militares e etc., como em todo o mundo. Se tentar fazer escondido, não adianta, alguém vai detectar. Câmera escondida, nem pensar. Vai ser descoberta facilmente. Como se trata de um país que vive sendo sacaneado, sobretudo pelo império, se não tomarem o mínimo de precaução, algum Posada Carriles pode fazer voar pelos ares alguma instalação.

A propósito, dia desses estive presente em um ato público dos jornalistas relacionado com a libertação, nos Estados Unidos, do terrorista Posada Carriles. Representantes dos principais órgãos de imprensa do país fizeram o uso da palavra, alguns deles exortado os colegas da América Latina e do mundo a não silenciarem ou manipularem a informação sobre o que representa o criminoso Posada Carriles, que vem sendo apresentado pela imprensa estadunidense como exilado, combatente anticastrista e denominações do gênero. Escondem que se trata de um terrorista na pura acepção da palavra.

La Habana tem alguns problemas crônicos; um deles é o dos transportes, que é um verdadeiro deus nos acuda. São vários os fatores que levam a isso, um deles o acirramento do bloqueio. É um problema sério, sem dúvida. Até agora sem solução.

Apesar disso e de outros pesares de menor monta, o povo vive contente. Em cada esquina você encontra alguém bailando ao ritmo frenético da salsa ou de qualquer outro que permita mostrar os dotes de dançarina ou dançarino. É uma fiesta mesmo.

Fidel Castro está presente diariamente nas páginas alertando para o perigo do uso do etanol. Debate-se o problema na televisão. O Brasil, por sinal, esteve presente nestes dias com imagens de um documentário sobre as condições de trabalho do pessoal da cana. Segundo os cubanos, muito parecido com o que acontecia por aqui antes da Revolução. Vergonha para nós, pois como explicar que em pleno século XXI ainda haja trabalhadores nestas condições?

Nem inferno, nem paraíso
Usar a Internet aqui é problemático. Não há censura propriamente dita, como informam, entre aspas, alguns jornalistas especializados em meias verdades ou manipulações propriamente ditas… É um problema técnico mesmo, ou seja, há lentidão, não tem banda larga e etc. Mas, segundo especialistas na matéria, quando Cuba tiver um satélite disponibilizado, o que acontecerá, graças à Venezuela, até o próximo ano, o esquema vai melhorar. Em compensação, cerca de 10 mil estudantes estão cursando a Faculdade de Ciências da Informática, para em um futuro não muito distante colocarem em execução o que aprenderam.

É isso, aí. Em suma, esta ilha do Caribe não é nenhum paraíso, como alguns informam erradamente, ou nem é um inferno como assinalam os seguidores de Bush e a direita universal, que aí no Brasil se apresenta em alguns sites com articulistas boquirrotos e a soldo sabe-se lá de quem… Cuba, sem suma, é um país da face da terra, com qualidades e defeitos. De qualquer forma, nos dias de hoje encontrar algum recanto que fuja ao padrão neoliberal já é uma conquista, por mais deficiências que possam ser encontradas.

Ah, sim, no segundo domingo de maio se comemorou aqui o Dia das Mães. É uma data do tipo de uma festa de fim de ano. Não tem apelo de consumo, mas de respeito e reverência às mães. A família do tipo nuclear é muito forte por aqui. Toda a mulher recebe o cumprimento com a frase FELICIDADES. De madrugada o pessoal sai à procura de alguma flor para presentear a sua mãe.

Fonte: www.fazendomedia.com/jakobskind.htm

0 comentários: