quinta-feira, 9 de abril de 2009

Futuro

Vou plantar uma árvore:
será
o
meu
gesto
de
esperança.

Copa grande, sombra amiga;
galhos fortes, crianças no balanço;
e muito frutos carnudos, passarinhos em revoada.

Mas o mais importante
de tudo: ela terá
de crescer
de
va
gar,
mui
to
de
va
gar,
Tão
de
va
gar
que
à sua sombra
eu nunca me assentarei.

Eu a amarei pelos meus sonhos que ela abriga... E vou dizê-los,
como poemas, quando minhas mãos revolverem a terra.

Desejarei que haja pão para todos.

Me rirei dos homens de guerra correndo, despidos, suas fardas, botas e espadas uma imensa fogueira... Imaginarei que os leões aprenderão com os cordeiros o gosto bom do capim. E os grandes pararão o seu trabalho para fazer lugar para o brinquedo das crianças...

Escolhi esse gesto porque as árvores são coisas mansas e tranqüilas. Diferentes dos dentes dos homens de guerra e dos números dos homens de lucro. As árvores celebram a vida e se oferecem como promessas, numa liturgia de paz. Com elas se inicia um futuro. Mas a guerra e o lucro engordam com as carnes dos sacrificados: gritos ferozes numa liturgia de fim de mundo.

Plantarei minha árvore.
Cantarei minha esperança.
Pensarei que o primeiro a plantar uma árvore à cuja
sombra nunca se assentaria foi o primeiro a pronunciar
o nome do Messias.
Algum dia o poder será dado à ternura.
Venha
plante
uma
árvore
comigo..."

Rubem Alves


0 comentários: