Voz embargada

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A Pulga

O sol tomava conta da cidade. Naquela manhã agradável de abril o dia prometia ser quente. Em Metalúrgica quem não ouve rádio é alienado. Alienado, lá foi ele para a parada tradicional de ônibus. Na parada, muitas pessoas paradas, esperando. Nem pulga atrás de orelha fez ele perceber que o dia era anormal. Anormal: adjetivo e substantivo de dois gêneros: que ou o que gera surpresa ou inquietação pelo seu caráter imprevisto ou inexplicável; excepcional, insólito.De ônibus em ônibus, todos lotados, ele foi cada vez mais ficando apreensível. Aos poucos percebeu que algo estava acontecendo. Também dera, o tititi e blablablá na parada deixava evidente que logo alí adiante tinha boi na linha. E não é verdade que tinha. Oba! Até que enfim um bãs vazio. Lá foi ele com uma hora de atraso. Deixa para trás o blablablá e vai ao encontro do... sei lá o que estavam aprontando. Sinaleira fechada, o ônibus ou bãs diminui a velocidade e pára. Desliga o motor. O quê!? Desliga o motor, surdo! Mas porquê? Nessa hora a pulga que estava atrás da orelha tinha dado uma banda, uma volta. A pulga estava abanando as tranças quando ele viu o tumulto. Era uma grande manifestação de trabalhadores que cobravam a manutenção de seus direitos adquiridos e outras coisitas mais. A prova que o manifesto era quente foi a decisão do motorista em desligar o motor. Abre, abre, abre! Os passageiros desceram do bãs e lá se foram à pé para a aula, para loja, para o hospital e para a (sic) baderna. Este último termo está propositalmente e ideologicamente utilizado para mostrar como estaria descrevendo um jornalista bem pago da revista Veja. Veja só... a monótona Metalúrgica acordou anormalmente agitada! O alienado se sentiu na Argentina ou na França. Faltou carro incendiado e grito de guerra. Acho até que rolou, mas o alienado já estava bem faceiro indo para sua aula. E a pulga? Ah! a pulga, pois é... a pulga estava correndo para chegar atrás da orelha!