terça-feira, 18 de julho de 2006

Resenha

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Os amigos e inimigos do rei

O caráter de Assis Chateaubriand é revelado nas mais de 730 páginas do livro Chatô, o Rei do Brasil do
jornalista Fernando Morais. O rei relacionava-se por interesse ao poder.
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Assis Chateaubriand relacionou-se com muitas pessoas. Conquistou muitas amizades e também muitos inimigos. Chatô casou-se várias vezes e teve três filhos. Fica difícil dizer se ele os amou. Chato, o rei do Brasil como o jornalista, Fernando Morais o descreveu em seu livro, morreu no dia quatro de abril de 1968. Em seus relacionamentos pessoais o interesse prevalecia. Considerado um mau-caráter, pode-se apostar que Chato amou apenas três coisas na vida: o poder, a arte e mulher pelada.

Chateaubriand ergueu um império. Seu conglomerado de mídia chegou a 81 jornais, 14 rádios e uma tevê. Muito deste império foi conquistado através dos relacionamentos que Chatô mantinha com pessoas influentes. Chatô tinha contato com os poderosos Rockefeller nos Estados Unidos, com presidentes no Brasil, ajudando-os a se elegerem e também apoiando sua deposição. Com os Diários Associados, Chateaubriand impunhava todo o seu poder e prestígio. Ele fazia amigos, mas também muitos inimigos.

Nos relacionamentos familiares, Assis Chateaubriand era muito ligado a seu irmão Oswaldo. No episódio em que o presidente Washington Luis demitiu Oswaldo, Chatô não deixou por menos. Em defesa do irmão, ele fez diversos ataques ao presidente em seus jornais. “O sr. Washington Luis é uma dessas baleias que o arrivismo político do Brasil fez, há oito meses, dar à praia do Flamengo, junto à ponte do Catete”. Oswaldo foi demitido pelo presidente Washington Luis porque era acusado de ser o diretor do Diário da Noite. Chatô não contente, nomeou, ironicamente, Oswaldo com o cargo que foi o causador da sua demissão.

A falta de caráter de Assis Chateaubriand revelava-se a cada casamento e a cada filho nascido, sempre em paralelo com o crescimento de seu império. Chatô só se casou oficialmente com Maria Henriqueta Barrozo do Amaral. Conhecida por “Maria Branquinha” por causa da sua beleza e cor da pele. Com ela, ele teve seu filho Fernando. Maria Henriqueta nem sempre sabia onde estava seu nômade marido. As cartas eram as formas pelas quais ela conseguia se comunicar com ele. Fica às claras que Chatô prioriza seu trabalho ao ambiente familiar. Mas, mesmo assim, ele sempre reservou momentos de puro ócio quando saia com seu filho Fernando para navegar na Baía da Guanabara.

Chateaubriand também se relacionou com a francesa Jeanne Allard. Chegaram a ficar noivos. Jeanne ficou grávida e Chatô a princípio não registrou o filho. O nome dele era Gilbert, o Gigil. Gigil viveu boa parte da sua infância chamando Chateaubriand de “padrinho Assis”. Esta decisão foi tomada pelos pais de Jeanne, que com a negativa de Chateaubriand de assumir a paternidade oficialmente, seria pelo menos padrinho da criança. Com a segunda guerra mundial veio o motivo impulsionador do reconhecimento da paternidade. Gilbert tinha sido registrado na França e seria recrutado para fazer parte do exército francês. A França iria entrar na guerra e todo cidadão francês de mais de 16 anos, em qualquer lugar do mundo seria chamado. A decisão estava nas mãos de Chateaubriand. Ele teria que reconhecer o filho para obter a cidadania brasileira. Gilbert já sabia que Chatô era seu pai e foi até O Jornal para implorar o reconhecimento. Chatô era impiedosamente irredutível mesmo com o pedido de seu amigo Dario Magalhães. “Não reconheço, seu Dario. Não o reconheço nem por piedade, porque ele não é meu filho, é filho de um judeu argelino”, alegava Chatô. Quando não restava mais tempo Chatô cedeu e reconheceu a paternidade de Gigil com a testemunha do ministro do Trabalho, Marcondes Filho. Gigil escapou da guerra e se tornou Gilberto Francisco Renato Allard Chateaubriand Bandeira de Melo a duras custas.

Chateaubriand sempre demonstrou sua obsessão pelo poder. Ele mantinha contato e se tornava íntimo de presidentes, reis e rainhas, políticos e empresários influentes. Da mesma maneira que ele ‘convocou’ o ministro do Trabalho para ser testemunha do reconhecimento do seu filho ele também ‘solicitava’ leis que o beneficiassem. Chatô era muito apegado a sua filha Teresa. Ela era filha dele e de Corita, Cora Acunha. Quando Chatô descobriu que Corita o traía e havia fugido com o amante e a filha Teresoca ele ficou enfurecido e montou uma “operação de guerra” para recuperar sua filha. Essa operação, é claro, foi montada com a sua influência no governo e na polícia. Com violência, Chatô conseguiu recuperar sua filha. Mas a mãe entrou com um pedido de posse na justiça. O juiz decidiu que a menina iria ficar com a mãe. Chatô invadiu a sala do juiz para desautorizá-lo. “O senhor sabe que eu sou?”, perguntou Chatô. No bate-boca Chatô desafiou por várias vezes o juiz. “Eu posso não ter o direito, seu juizinho de merda, mas tenho algo mias importante: a razão! Sua carreira terminou hoje, aqui e agora.”, disse o o poderoso jornalista.

A guerra pela posse da menina teve muitas batalhas. Com muitas delas perdidas, Chatô resolveu vencer a guerra utilizando da arma que ele mais sabia usar: sua influência e chantagens nos meios políticos e empresarial do país. Ele pediu ao presidente Getúlio Vargas que mudasse a lei, podendo assim ficar definitivamente com a posse da filha. Essa sei é conhecida pelo judiciário como Lei Teresoca, e assim Chatô demonstrava mais uma vez sua ‘autoridade’ e seu poder. Assuntos particulares e familiares eram tratados como negócios e ele jamais admitiria derrotas.

Segundo o relato de Fernando Morais, Getúlio Vargas talvez tenha sido o maior amigo e ao mesmo tempo inimigo de Chateaubriand. Ou nenhum dos dois. Além da criação da Lei “Teresoca”, promulgada pelo presidente Getulio Vargas que beneficiou particularmente Chatô, outros fatos também marcaram este relacionamento. Em 1940, Getúlio decidiu subsidiar a implantação de um fábrica de papel que abastecesse todo o mercado nacional. Para tal feito fez a proposta a Assis Chateaubriand que surpreendeu o presidente. “Presidente meu negócio é imprimir papel, não fabricar. Não é uma atividade que me interesse”, respondeu Chatô. Mesmo assim Chatô indicou os empresários que iriam ser responsáveis pela fábrica. O jornalista teve grande influência nas decisões do presidente.

Através dos relacionamentos pessoais, Chateaubriand montou seu império. Tornou-se político e eleito senador. Ele organizou a Força Aérea e criou o Museu de Arte de São Paulo. Trouxe a tevê para o país. Montou o maior conglomerado de imprensa do Brasil, os Diários Associados. Depôs presidente que ele mesmo elegeu. Durante toda a sua vida ele misturou aventuras pessoais e idéias fabulosas. Num dia estava em Pernambuco e no outro, estava no Uruguai, isso tudo no precário Brasil da década de 30. O livro Chatô, o Rei do Brasil, de Fernando Morais, descreve a cada linha o caráter deste brasileiro. Chatô foi amado por uns e odiado por outros. Mas Chatô só amou o poder, a arte e mulher pelada.

2 comentários:

carolina cunha disse...

estava fazendo pesquisas sobre o livro 'chatô: o rei do brasil' e acabei entrando no seu blog ..

tá realmente legal !

Lêandro disse...

...como assim? achou sem querer? que legal!

Obrigado