segunda-feira, 22 de maio de 2006

Mais de cem, sem lista

.
Haiti
Caetano Veloso e Gilberto Gil


Quando você for convidado pra subir no adro
Da fundação casa de Jorge Amado

Secretário de Segurança de São Paulo manda a polícia para a rua

Pra ver do alto a fila de soldados, quase todos pretos
Dando porrada na nuca de malandros pretos
De ladrões mulatos e outros quase brancos
Tratados como pretos
Só pra mostrar aos outros quase pretos(E são quase todos pretos)
E aos quase brancos pobres como pretos
Como é que pretos, pobres e mulatos
E quase brancos quase pretos de tão pobres são tratados
E não importa se os olhos do mundo inteiro
Possam estar por um momento voltados para o largo
Onde os escravos eram castigados
E hoje um batuque um batuque
Com a pureza de meninos uniformizados de escola secundária
Em dia de parada
E a grandeza épica de um povo em formação
Nos atrai, nos deslumbra e estimula
Não importa nada: Nem o traço do sobrado
Nem a lente do fantástico,
Nem o disco de Paul Simon

“Se cada um voltasse para o seu estado, tudo funcionaria. O problema é que 80% dos votos para presidente são de São Paulo – e os nordestinos votam errado”. Pois é, entenderam? (Chiquinho Scarpa, ex-Carola, elite sangue azul)

Ninguém, ninguém é cidadão
Se você for a festa do pelô, e se você não for
Pense no Haiti, reze pelo Haiti

'El País' chama São Paulo de "a capital do medo"

O Haiti é aqui
O Haiti não é aqui

Mas o primeiro-sociólogo do sociologismo tucano prefere a retórica academicista barata: “A elite virou explicação para tudo no Brasil, de bicho-de-pé à dor no fígado. Tudo é culpa da elite”. Não, cara pálida, a culpa é dos nordestinos, como disse o seu colega, o ex-Carola. Ou pode ser culpa de preto, de favelado, de analfabeto, dos aposentados do INSS, das crianças do farol. Ou ainda dessa gente estúpida que fica clamando por direitos humanos ao invés de ir cuidar da vida (Renato Rovai - Revista Fórum)


E na TV se você vir um deputado em pânico mal dissimulado
Diante de qualquer, mas qualquer mesmo, qualquer, qualquer
Plano de educação que pareça fácil
Que pareça fácil e rápido
E vá representar uma ameaça de democratização
Do ensino do primeiro grau
E se esse mesmo deputado defender a adoção da pena capital
E o venerável cardeal disser que vê tanto espírito no feto
E nenhum no marginal
E se, ao furar o sinal, o velho sinal vermelho habitual
Notar um homem mijando na esquina da rua sobre um saco
Brilhante de lixo do Leblon
E quando ouvir o silêncio sorridente de São Paulo

Governador não quer divulgar lista de mortos
Lista dos 107 mortos ainda não será divulgada, diz secretário
Disputa por lista de mortos em São Paulo pode ir à Justiça

Diante da chacina 111 presos indefesos, mas presos são quase todos pretos
Ou quase pretos, ou quase brancos quase pretos de tão pobres
E pobres são como podres e todos sabem como se tratam os pretos

O doutor, ao invés de beicinhos para defender a elite, poderia perguntar disso. Se tiver dúvida, lhe adianto. Não vou meter o assunto de branco-preto no meio. Até porque ele é quase todo preto. Dos 107, quantos brancos teremos? Quantos moram nos Jardins? Quantos estudam na USP?
(Renato Rovai - Revista Fórum)


E quando você for dar uma volta no Caribe
E quando for trepar sem camisinha
E apresentar sua participação inteligente no bloqueio a Cuba
Pense no Haiti, reze pelo Haiti
O Haiti é aqui
O Haiti não é aqui

0 comentários: