Governos do PSDB e do DEM usam recursos do SUS para fazer ajuste fiscal
Os governos de São  Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, todos do  PSDB, mais o do Distrito Federal, do  DEM (ex-PFL), nos últimos quatro anos vêm utilizando  recursos do SUS (Sistema Único de Saúde) no mercado financeiro. A denúncia  foi publicada na edição desta semana da revista Carta Capital.
"A manobra serviu aparentemente  para incrementar programas estaduais de choques de gestão, como manda a cartilha  liberal, e políticas de déficit zero, em detrimento do atendimento a uma  população estimada em 74,8 milhões de habitantes", diz a  revista.
As irregularidades foram  constatadas por um grupo de técnicos do Departamento Nacional de Auditorias do  Sistema Único de Saúde (Denasus), do Ministério da Saúde. O Denasus listou uma  série de exemplos de desrespeito à Constituição, a normas do Ministério da Saúde  e de utilização ilegal de verbas do SUS em outras áreas de governo. "Ao  todo, o prejuízo gerado aos sistemas de saúde desses estados passa de 6,5  bilhões de reais, sem falar nas consequências para seus usuários, justamente os  brasileiros mais pobres", diz a reportagem.
Na avaliação do deputado Dr.  Rosinha (PT-PR), a atitude dos governadores do PSDB e do DEM mostra bem o modelo  de gestão demo-tucana de acumulação de capital em detrimento das políticas  sociais. "O resultado dessa auditoria nos faz compreender o jeito de  governar dos tucanos e democratas, que priorizam a ciranda financeira enquanto a  população sofre sem assistência básica de saúde e sem medicamentos",  afirmou.
Segundo Dr. Rosinha, o resultado da  auditoria torna clara a política econômica adotada pelo governo Fernando  Henrique Cardoso (1995-2002), que "favoreceu o grande capital e prejudicou o  sistema público de saúde". Para Dr. Rosinha, a constatação dos técnicos do  Denasus também deve servir de alerta para a população, de modo a não se permitir  a volta dos neoliberais ao comando do Brasil.
O deputado Pepe Vargas (PT-RS)  considerou grave o resultado da auditoria. Ele já havia solicitado uma cópia  dela para verificar a não aplicação dos recursos públicos federais em ações de  saúde. "A situação é ainda mais grave: além de os estados incluírem na  rubrica saúde outros serviços, estamos verificando que, enquanto a população  sofre com a falta de medicamentos e atendimento básico de saúde, a verba vem  sendo utilizada de forma sistemática e a longo prazo para melhorar o caixa único  dos governos estaduais", afirmou.
Pepe Vargas defende mais rigor na  fiscalização destes repasses. Ele sugere que o Ministério Público, Ministério da  Fazenda e o Banco Central façam um acompanhamento rigoroso do caminho destes  recursos. "É necessário analisar e apurar a situação com rigor, até porque  há suspeição do modus operandi dos estados governados pelo PDSB e pelo DEM. Eles  teriam recebido a mesma consultoria para fazer o ajuste fiscal com déficit zero  por meio destas aplicações", ressaltou.
Resultados - As auditorias,  realizadas nos 26 estados e no DF, foram iniciadas no fim de março de 2009 e  entregues ao ministro da Saúde, José Gomes Temporão, em 10 de janeiro deste ano.  Ao todo, cinco equipes do Denasus percorreram o País para cruzar dados contábeis  e fiscais com indicadores de saúde. A intenção era saber quanto cada estado  recebeu do SUS e, principalmente, o que fez com os recursos federais. Na maioria  das unidades visitadas, foi constatado o não cumprimento da Emenda  Constitucional nº 29, de 2000, que obriga a aplicação em saúde de 12% da receita  líquida de todos os impostos estaduais. Essa legislação ainda precisa ser  regulamentada.
Segundo a Carta Capital, ao  analisar as contas, os técnicos ficaram surpresos com o volume de  recursos federais do SUS aplicados no mercado financeiro, de forma cumulativa,  ou seja, em longos períodos. Legalmente, o gestor dos recursos é,  inclusive, estimulado a fazer esse tipo de aplicação, desde que antes dos prazos  de utilização da verba, coisa de, no máximo, 90 dias. Em Alagoas, governado pelo  também tucano Teotônio Vilela Filho, o Denasus constatou operações semelhantes,  mas sem nenhum prejuízo aos usuários do SUS. Nos casos mais graves, foram  detectadas, porém, transferências antigas de recursos manipulados,  irregularmente, em contas únicas ligadas a secretarias da Fazenda. Pela  legislação em vigor, cada área do SUS deve ter uma conta específica, fiscalizada  pelos Conselhos Estaduais de Saúde, sob gestão da Secretaria da Saúde do  estado.
O primeiro caso a ser descoberto  foi o do Distrito Federal, em março de 2009, graças a uma análise preliminar nas  contas do setor de farmácia básica, foco original das auditorias. No DF, havia  acúmulo de recursos repassados pelo Ministério da Saúde desde 2006, ainda nas  gestões dos governadores Joaquim Roriz, então do PMDB, e Maria de Lourdes  Abadia, do PSDB.
No governo do DEM, em vez de  investir o dinheiro do SUS no sistema de atendimento, o ex-secretário da Saúde  local Augusto Carvalho aplicou tudo em Certificados de Depósitos Bancários  (CDBs). Em março do ano passado, essa aplicação somava R$ 238,4 milhões. Parte  desse dinheiro, segundo investiga o Ministério Público Federal, pode ter sido  usada no megaesquema de corrupção que resultou no afastamento e na prisão do  governador José Roberto Arruda.
Essa constatação deixou em alerta o  Ministério da Saúde. As demais equipes do Denasus, até então orientadas a  analisar somente as contas dos anos 2006 e 2007, passaram a vasculhar os  repasses federais do SUS feitos até 2009.
O Rio Grande do Sul foi o  último estado a ser auditado, após um adiamento de dois meses  solicitado pelo secretário da Saúde da governadora tucana Yeda Crusius, Osmar  Terra, do PMDB. Terra alegou dificuldades para enviar os dados porque o estado  enfrentava a epidemia de gripe suína. Em agosto, quando a equipe do Denasus  finalmente desembarcou em Porto Alegre, o secretário negou-se, de acordo com os  auditores, a fornecer as informações. Não permitiu sequer o protocolo na  Secretaria da Saúde do ofício de apresentação da equipe. A direção do  órgão precisou recorrer ao Ministério Público Federal para descobrir que o  governo estadual havia retido R$ 164,7 milhões de recursos do SUS em aplicações  financeiras até junho de 2009.
Com exceção do DF, onde a  maioria das aplicações com dinheiro do SUS foi feita com recursos de assistência  farmacêutica, a maior parte dos recursos retidos em São Paulo, Minas Gerais e  Rio Grande do Sul diz respeito às áreas de vigilância epidemiológica e  sanitária, aí incluído o programa de combate à Aids e outras doenças sexualmente  transmissíveis (DSTs). Mas também há dinheiro do SUS no mercado financeiro  desses três estados que deveria ter sido utilizado em programas de gestão de  saúde e capacitação de profissionais do setor.
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