Cansado de derramar seu sangue em Metalúrgica, ele decide sair por aí. Aí ele viveu.
Mesmo longe, as lembranças de Metalúrgica não saiam do seu côco. A placa de um carro tinha atiçado seus pensamentos. Estava escrito METALÚRGICA-RS IBV 5987. O que um carro da cidade que ficou pra trás fazia alí, tão longe? Não quis saber, pero não conseguiu se esconder dos pensamentos.
Metalúrgica era fria, em todos os sentidos. A neblina escondia a amargura. A umidade mantinha peles afastadas. O ar condicionado condicionava. O caráter era condicionado. A noite era condicionada. Não haviam ônibus depois das onze. O caminhar precisava ser corajoso. A idéia de medo era constante. Os Metalurgicanos viviam para o trabalho. Só as lembranças ruins vinha a sua cabeça. As boas pareciam não ter a ver com Metalúrgica.
Numa noite, na pracinha de uma escola, um grupo de amigos tomava vinho. O vinho era quente. Alucinógino vinho da noite. Ele não quis sorver aquela paranóia. Mas assistiu-os naquele momento de transe e fuga. Mas quem queria fugir era exatamente ele. Porém não entrou no copo. Ficou quieto e cabisbaixo. O máximo que se entorpeceu foi com um cigarro de palha que ele mesmo tinha enrolado. O fumo era bom. Fumo era marca Diabo. Ele havia conseguido numa fantasia no mergulho literário em Satolep. Os comparsas alí, viajando entre damas da noite e noite sem damas. Alguns viam formigas coloridas enquanto outros riam com vontade. A noite foi se passando. Ele foi embora, deixando no ar a fumaça densa do desconforto.
Metalúrgica era uma mistura de oportunidade com trabalho ingrato. Quando se tinha pila não se tinha força. Força era o que faltava. Força.
O carro se foi, levando consigo aquela placa. Os pensamentos foram embora.
quinta-feira, 16 de outubro de 2008
Pensamentos ao vento
Postado por Lêandro às 23:34
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1 comentários:
E cada um sabe onde encontrar sua força para reempoderar-se de si e sair da alienação. Às vezes falta coragem, outros chamam de oportunidade.
E aqueles que não sabem onde encontrar essa força, será possível mostrar-lhes como sair da "zona de conforto"? Particularmente creio que não... tem que vir de si. Porém, infelizmente, nem todos têm base suficiente para isso, para essa situação específica de trabalho, mas cabe observar que conseguem superar-se em outras.
Sim!!! Talvez seja esse o caminho: emparelhar as situações de confronto que resultaram em superação, com aquelas que geram confronto e, no entanto, ficam estagnadas, sem mudança de perspectiva.
Enfim, três palavras resumem essa idéia: capacidade de resiliência
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