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Cada medalha olímpica custou R$ 53 milhões à União | |
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Quando as Olimpíadas de Pequim terminarem, hoje, às 9h (de Brasília), o Brasil vai bater um novo recorde. A reportagem é de Gian Amato, Miguel Caballero e Rogério Daflon e publicada pelo jornal O Globo, 24-08-2008. No país onde a política esportiva fica sempre em último, o esporte olímpico teve mais sucesso em abrir o baú do Tesouro Nacional do que em garimpar o ouro em Pequim. Nunca houve tanto dinheiro público injetado na preparação em um ciclo olímpico. Nos últimos quatro anos, o Comitê Olímpico BrasileiroCOB) e as confederações receberam R$ 692,58 milhões de patrocínio de empresas estatais e dos recursos da Lei Piva. ( Bem mais que o dobro das verbas destinadas ao ciclo de Atenas-2004, no qual foram gastos cerca de R$ 280 milhões e conquistados cinco ouros, na melhor campanha da História. O negócio da China custou caro à União: cada medalha, exceto as do futebol, já que a CBF não recebe dinheiro público, saiu a R$ 53 milhões. Na mala dos dirigentes que foram a Pequim, a expectativa de bater a marca de cinco ouros de Atenas e de 15 medalhas de Atlanta -1996 era inflada pelo fato de este ter sido o primeiro ciclo olímpico completo beneficiado pela Lei Piva, que assegura 2% das loterias federais para o esporte olímpico. De 2004 a 2008, os cofres do COB e das confederações foram irrigados com R$ 300,04 milhões. Com mais R$ 371,66 milhões das estatais; R$ 10,4 milhões gastos na Casa Brasil; R$ 5,2 milhões captados pelas confederações de Boxe e Tênis de Mesa pela Lei de Incentivo ao Esporte; R$ 4,5 milhões de verba direta do Ministério para o COB investir apenas em alto rendimento; e R$ 780 mil do Bolsa-Atleta para esportistas que foram a Pequim, chega-se ao total investido diretamente pela União nos Jogos. Os recursos da Lei Piva são filtrados pelo COB, que costuma reter 50%. Em 2007, por exemplo, a entidade recebeu R$ 84,66 milhões, e aplicou nas confederações R$ 35,91 milhões. Do total da Lei aplicado no COB naquele ano, R$ 22 milhões foram usados para pagar as despesas administrativas da entidade. Já para a preparação técnica, o COB destinou apenas R$ 1,3 milhão. O problema é que os maiores beneficiados nem sempre são os mais necessitados. A Confederação Brasileira de Vôlei (CBV), por exemplo, que fica com a maior parte do patrocínio de R$ 50 milhões do Banco do Brasil, recebeu da Lei cerca de R$ 7,87 milhões nos últimos três anos. Já o levantamento de peso, modalidade que deu à China oito medalhas de ouro, atrás apenas da ginástica, com nove, recebeu R$ 1,7 milhão no mesmo período. As confederações, por sua vez, aplicaram no ano apenas 8,7% na manutenção dos atletas. A maior parte dos R$ 35,91 milhões (42%) foi empregada na organização e participação em eventos esportivos. Para o Judô, nos anos de 2006, 2007 e parte de 2008, já orçado, o COB entregou R$ 5,76 milhões. O esporte — que trouxe três medalhas de bronze de Pequim — também tem o patrocínio de R$ 5,1 milhões da Infraero. Mesmo com o investimento de R$ 10,86 milhões, o judoca Eduardo Santos sequer tinha R$ 1,5 mil para fazer o exame e passar da faixa marrom para a preta, o que só foi possível este ano, quando conseguiu a vaga olímpica. A participação de Eduardo Santos esteve ameaçada até o último momento, apesar do patrocínio e do investimento da Lei. Em 2005, ele sofreu uma lesão no pé e não tinha dinheiro para pagar uma operação. Patrocínio estatal é para poucos Do total do bolo de dinheiro público investido, a maior parte vem de seis empresas estatais, por intermédio de patrocínio às confederações. Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Petrobras, Correios, Eletrobras e Infraero injetaram, desde Atenas, R$ 371,66 milhões. Se, na aplicação de recursos da Lei Piva, há distribuição desigual, nos patrocínios estatais a concentração é ainda maior: apenas dez confederações, além do COB, recebem dinheiro, enquanto a Lei contempla 28 confederações. Nem sempre ter uma empresa pública como padrinho significa bons resultados. Um dos maiores patrocínios é o da Eletrobras à Confederação Brasileira de Basquete (CBB). Nos últimos quatro anos, foram R$ 30 milhões investidos. O retrospecto das seleções é pífio: o masculino não vai aos Jogos desde Atlanta-1996. A seleção feminina, que ganhou medalhas em Atlanta e Sydney, fracassou em Pequim. Ainda que não tenha obtido grandes resultados, o Brasil soube fazer o marketing de si mesmo na Casa Brasil em Pequim, vitrine do país e do COB para expor seus patrocinadores. O ciclo olímpico teve ainda aportes inéditos. Em dezembro de 2006, entrou em vigor a Lei de Incentivo ao Esporte, que, a exemplo da Lei Rouanet, na Cultura, permite a empresas que patrocinem projetos esportivos descontar o valor do Imposto de Renda. Além dos R$ 5,2 milhões das confederações de Boxe e Tênis de Mesa, R$ 26 milhões do patrocínio da Petrobras ao COB foram dados através da Lei. O montante total de captação para o esporte que a Lei de Incentivo permite é bem maior, de cerca de R$ 300 milhões anuais. Mas o critério aqui adotado foi considerar, como gastos do governo para os Jogos, apenas projetos aprovados para o COB e confederações. Outra nova forma de financiamento público é o Bolsa-Atleta, que subsidia desde estudantes a esportistas olímpicos. Para atletas de nível olímpico, a bolsa é de R$ 2,5 mil mensais. Estão em Pequim bolsistas como o pugilista Washington Silva, o judoca Denilson Lourenço, e as jogadoras de futebol Tânia Maranhão e Renata Costa. A conta para o Governo pode ser bem maior, porque, nesses quatro anos, o investimento em esporte não se limitou à preparação para as Olimpíadas. Em 2007, a realização dos Jogos PanAmericanos no Rio consumiu R$ 1,8 bilhão apenas de verba federal (50%). Os custos totais ultrapassaram os R$ 3 bilhões. A chuva de medalhas em 2007 no Rio, obviamente, não se repetiu nas Olimpíadas. Também estão fora da conta R$ 23,82 milhões repassados pelo Ministério do Esporte ao COB desde 2005 para diversas finalidades, não especificamente ligadas a Pequim. Enquanto as verbas públicas vão em maioria para o topo da pirâmide — COB e confederações olímpicas —, o trabalho de formação esportiva, tão bem-feito pela China, ainda é algo incipiente no Brasil. |
Fonte: IHU online
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