quarta-feira, 21 de maio de 2008

A hora de contar histórias

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De mansinho o jornalismo literário ocupa a web, as revistas, os livros e também os jornais

O jornalismo literário, no Brasil, depois de um período no “exílio” das publicações está de volta, em livros-reportagem, jornais, revistas e na Internet. Talvez seja a Internet a principal responsável por esse retorno. Segundo artigo de Mateus Passos, especialista em Jornalismo Literário e Romulo Orlandini, mestrando em Lingüística, publicado no Intercom deste ano com o título Contando a História do presente, princípios para a caracterização estrutural do jornalismo literário, foi no final do século XIX que o uso das técnicas narrativas no jornalismo se intensificaram.

Para Passos e Orlandini, exemplo disso é Os Sertões, obra de não-ficção de Euclides da Cunha sobre a Guerra de Canudos. O livro foi baseado nas reportagens que o jornalista publicou em O Estado de S. Paulo. Em 1897 ele foi enviado como correspondente do jornal à cidade de Canudos no nordeste do Estado da Bahia para cobrir o movimento sócio-religioso liderado por Antonio Conselheiro e talvez o maior massacre já ocorrido no país.

Na leitura de um pequeno trecho de Os Sertões podemos entender melhor o que dá jornalismo e literatura. “Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda a história, resistiu até ao esgotamento completo. Expugnado palmo a palmo, na precisão integral do termo, caiu no dia 5, ao entardecer, quando
caíram os seus últimos defensores, que todos morreram. Eram quatro apenas: um velho, dois homens feitos e uma criança, na frente dos quais rugiam raivosamente 5 mil soldados. (...) Caiu o arraial a 5. No dia 6 acabaram de o destruir desmanchando-lhe as casas, 5.200, cuidadosamente contadas.”

Jornalismo literário é isso. O jornalista é um contador de história sem perder a apuração dos fatos. Euclides da Cunha escreveu um fato jornalístico de forma literária. O professor Juremir Machado da Silva, professor da PUCRS, escritor, jornalista e historiador diz que a única diferença que existe entre o jornalismo literário e o jornalismo ‘convencional’ é a questão do texto, que é mais ou menos romanesco.

Voltando à Internet, pode-se dizer que a unanimidade não é burra. Professores, jornalistas, escritores e os estudiosos do jornalismo literário afirmam que a redução de narrativas nos jornais forçou os jornalistas desse gênero a procurarem na Internet seu espaço e seu veículo de comunicação. São blogues, saites e jornais que exploram o recurso das narrativas para satisfazer leitores à procura de textos imersos na realidade. O saite Texto Vivo – Narrativas da vida real é um exemplo da veiculação de textos jornalísticos utilizando recursos da literatura. É uma página mantida pela Academia Brasileira de Jornalismo Literário que também oferece, segundo o professor Edvaldo Pereira Lima, a primeira especialização em Jornalismo Literário do país. E são os próprios alunos que escrevem os textos publicados no saite. A ABJL vai na contramão da história e está especializando novos escritores muitos deles jornalistas.


O professor Juremir Machado diz que cada vez são mais escassas as grandes reportagens nos jornais e que ainda o espaço que resta para o jornalismo literário são as crônicas. Se por um lado diminuiu o espaço por outro lado existem escritores afoitos a esse gênero jornalístico. Jornalistas que buscam espaços e que estão se aperfeiçoando. Eles são os principais divulgadores e retomadores deste gênero que outrora era destacado.

Outro “ponto de encontro” do jornalismo literário são as revistas. Para o jornalista Eduardo Veras os jornais não tem muito espaço, mas “felizmente, temos uma revista como a Piauí, em que isso não é só possível como bem-vindo”. A revista Piauí talvez seja o principal exemplo da mesclagem entre a escrita jornalística e a composição literária. Enquanto os jornais enfrentam alguns problemas e dilemas quanto a sua existência diante de outros meios, as revistas estão em expansão.


Segundo Rosângela Marçolla, doutora em Comunicação Social, e Rodolfo Viana, graduando em Jornalismo, os “indíces apontam para a ascensão do veículo “revista”, formato este que permite o jornalismo literário, pela atemporalidade de seu conteúdo.

O jornalismo literário é uma opção para os futuros jornalistas e aqueles que procuram textos mais profundos e com o sabor da literatura. “O jornalismo literário não procura suplantar ou eliminar aquele baseado no lead e na pirâmide invertida, mas complementá-lo, trazer uma visão diferenciada e aprofundada da realidade nele relatada”, explicam Passos e Orlandini.

Originalmente veiculado no Jornal Textando do curso de jornalismo da Universidade de Caxias do Sul

2 comentários:

Anônimo disse...

mais pensar e menos chupar outros artigos, colega.
não vi nenhuma opinião tua ou alguma entrevista tua no post.
tudo conteúdo do artigo citado.
isso não é jornalismo, ou não é o caminho para.

Peixoto disse...

...mas e então...anônimo.

Pelo "colega", presumo que seja um "convicto jornalista". Me corrija se estiver equivocado mas, jornalista não apresenta apenas opinião. É acima de tudo é um veículo dos fatos para, quem lê, assiste, ou escuta, tirar suas próprias conclusões.

E qual foi tua opinião mesmo?