sábado, 15 de dezembro de 2007

¿ Lei teratura ?

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Da literatura da transformação à literatura na poltrona: algumas lições mágicas

O desafio era fazer uma resenha crítica sobre um capítulo do livro. Certo? Não era assim um grande desafio. Era um exercício, uma tarefa. Lá fui eu ler. Escolhi o capítulo que tinha o nome do livro e porquê não.

Bom, então vamos lá. O autor de cara já faz uma crítica aquilo que é prática comum no curso de jornalismo por exemplo. E por que não dizer da universidade como um todo. Hoje lemos porque é obrigatório. Recebemos listas de livros a serem lidos. E na disciplina de Redação recebemos esse que agora estou fazendo este texto. Neste caso foi diferente. Sem querer agradar a professora eu confesso que fui atraído pelo livro logo quando ela nos mostrou em sala de aula. Num certo ponto do capítulo o autor escreve que “as leituras, hoje em dia, ou são técnicas, ou são burocráticas, ou didáticas” e recordo que muitas vezes me dei mal nessas leituras. Antes vou descrever uma 'histórinha'. Num desses semestres, tínhamos a obrigação de ler um grande e muito bom livro. Acho que eram setecentas e cassetadas páginas. Muito conteúdo, muita imersão, realmente o livro era bom. Mas a obrigatoriedade estragou tudo. Sabe o que eu li no mesmo período? Li um livro do Rubem Alves que se chama Gestação do Futuro que tinha como título original em inglês já que ele estava no “exílio” nos esteites. O título original era Tomorrow´s Child ou Crianças do amanhã como traduziu um amigo meu que fez o Yázigi. Eu juro que prefiro o título em inglês. Tem mais haver com o livro. E o livro obrigatório não foi lido. Porém eu tinha que fazer uma resenha e apresentar um trabalho sobre ele. Bá! Tive sorte o livro Chatô o rei do Brasil foi lido em 1999 quando não era obrigatório. Naquela época foi um prazer lê-lo. Como li por livre e espontânea vontade ele ficou guardadinho na minha cachola. Fiz os trabalhos e me dei bem. Mas no semestre do Chatô eu li o livro Crianças do amanhã do Rubem Alves..

A leitura também é moda. Lemos porque saiu na Veja e na Isto é. A impressão que dá é que temos que ler para não virarmos extras-terrestres. José Castello diz que as leituras são geridas pelos modismos, pelas agências literárias e pelo marketing. Infelizmente passamos de leitores para consumidores e em seguida para consumidos.

Se existe um motivo para ler ele deve ser pelo prazer da leitura. Mesmo que esse prazer represente dor. Uma professora no passado me disse que pensar doe. Professora, ler também. É quase que um ritual sado-masoquista.

O ato de ler e escrever também tem aspectos metafísicos. É fé, é meditação. Parafraseando Vinicius de Morais quando diz que um bom samba é uma forma de oração eu posso dizer que um bom livro é uma forma de meditação. Castello lembra que “nada assemelha-se ao contato silencioso e misterioso, mas intenso que liga o leitor ao livro” e também ao escritor.

É seu Castello... você questiona, “quem pode dizer estar preparado para ler um livro?” Quem? Quem? Talvez esteja aí o motivo porque tão pouca gente leia. Eu inclusive. Fomos programados para não ler. Temos que ser eruditos para ler Machado de Assis? Especialistas para ler Borges? Vamos ser doutores para depois começarmos a ler bons livros. Isso não é um pouco radical da sua parte? Mas acho que faz sentido. Talvez explique porque tanta gente lê Paulo Coelho. Ainda não estão preparados para um Cem Anos de Solidão.

Esse capítulo que li, serviu-me como auto-ajuda. Sem gracinhas. O autor escreveu e eu me senti com uma melhor auto-estima. Olha o que ele escreveu: “o despreparo, a insuficiência não são obstáculos, ao contrário, são condições fundamentais para a aventura de ler”. Acho que foi por isso que comecei a ler Clarice Lispector depois dos 30. Descobri tarde de mais? Acho que não. Sempre é tempo.

Se não existe o preparo para ler, então suponho que ninguém está preparado para escrever. Por isso eu escrevo. Porque não estou preparado. Sei que tenho que melhorar muito, mas não quero nunca estar preparado.

Voltando a metafísica, a mística da literatura. O autor aprofunda nossos pensar. Para ele a literatura é antes de tudo, o universo do particular. Nas minhas “lembranças literárias” encontro uma frase do Câmara Cascudo que diz que ninguém está a sós quando pensa. Um livro nos faz pensar. Talvez consista nesse pensar o nosso universo particular.

A literatura assume um contorno diferente na simples leitura de um, unzinho, capítulo. Uma dimensão que eu vivia mas nunca tinha percebido. A dimensão do etéreo, do divino. Quantas vezes já ouvi no café literário alguém exclamando: “Esse livro é divino”.

O autor também acrescenta que a literatura provém do instinto. “A literatura não é só que se escreve, é também um mergulho interior”.

Castello quer humanizar a literatura. Ela é humana quando ele propõe que “é hora de pedir a literatura que se erga (...) que volte a viver”.

E a mágica continua... “Nós, sim que somos lidos”, cita Clarice Lispector “não sou eu quem escrevo é o livro que me escreve”. Onde tudo isso vai parar. Não pára, não pára não.

É Castelo “não é fácil ler um livro, mas é inesquecível.”

Vou parando por aqui pois daqui a pouco ainda incorporo um divindade e por instinto escrevo até não aguentar mais. Eu só posso acrescentar que a literatura nos transforma quando a gente menos espera. Ainda bem que a gente não espera.

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