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É. Enquanto a discussão sobre as transformações no mundo do trabalho agitam intelectos e intelectuais, uns seres humanos trabalham demais e outros de menos. Se por alguma definição o trabalho deve ser pelo menos digno e prazeroso essa discussão entra em grande contradição. Entende-se por trabalho digno e prazeroso aquele trabalho que dá sustento material e espiritual para o sujeito. Um trabalho que não possa sustentar humildemente uma família não pode ser considerado digno e prazeroso. De mesma forma um trabalho para sustentar riqueza e supérfluos. Mas tudo é uma questão particular.
É bem nesse ponto que a discussão sobre o trabalho toma um rumo. Se é que toma. O trabalho para o consumo e o consumo para o trabalho. Deixa-se claro aqui, que essa "idéia" não é original e nem pretende ser precisa. A intenção deste blogue é simplesmente dar palpites sobre assuntos complicados. Então, podemos dizer que viver dando sentido para vida depende de como tratamos a questão do trabalho e a questão do consumo. O consumismo é um gerador de sofrimento e tristeza quando não conseguimos ter aquilo (material) que desejamos. E quando temos, a felicidade é passageira e voltamos ao primeiro estágio novamente. Neste estágio, de desejar novamente, somos cooptados a viver o consumismo. E o trabalho neste moto, como age? O trabalho é a forma de se conquistar os desejos. Claro que no sistema capitalista neoliberal que vivemos a situação é nefasta. O desejo da maioria é ter casa, ter comida, ter agasalho. O básico para a vida. Mas o consumismo é perverso e mesmo que a pessoa conquiste o "básico" o sistema trata de achar um novo desejo para aquele sujeito.
Domingo, passei pelo centro da cidade e observei duas coisas. Uma, que o Mccafé como dá pra perceber é do McDonalds, está ocupando um espaço público público, a Casa da Cultura. Está lá por licitação. Além de ícone do capitalismo neoliberal imperialista é também símbolo do consumo. O McDonalds é uma das melhores representações do consumismo, do desejo pelo supérfluo, da experiência de globalização e padronização. Da "alimentação" em série. Readaptando a frase que acho ser de Henry Ford pode-se dizer que você pode comer o que quiser desde que seja do McDonalds. Agora fica a indagação: será que tipo de trabalho alimenta esse desejo, o desejo se sentir globalizado comendo num Mcdonalds? Um sujeito que recebe bem, 5 reais por hora por exemplo, chega gastar 20 reais em 15 minutos dentro de um dessas lancherias. Um tênis Nike custa infinitamente mais do que tudo que foi investido para a sua produção. Quanto trabalho que não é digno e prazeroso deve ser empregado para produzir um tênis que será objeto de desejo e mola propulsora do consumismo?
Mais adiante, depois da afronta na casa de cultura, escuto marteladas e ruído de obras. É domingo e uma meia dúzia de operário trabalha na obra do sino da catedral. Esses indivíduos provavelmente não almoçaram com a família, nem em casa nem no McDonalds. Muito certo também que eles não estejam ganhando hora extra. Talvez estejam descontando horas do banco de horas. Horas extras e banco de horas são produtos da forma de trabalho da atualidade. E é esse trabalho que é discutido por intelectos e intelectuais. Enquanto isso quem pode, pode e quem não pode se sacode. Uns tomam café no Mccafé e outros trabalham domingo no sino da igreja. E a Nike dá risada.
quarta-feira, 20 de junho de 2007
Você pode comer o que quiser desde que seja McDonalds
Postado por Lêandro às 14:20
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3 comentários:
Lê, só um detalhe: henry ford morreu em 1947. a primeira loja do mcdonald's é de 1955.
Um abraço,
Daniel
Daniel tu leu todo o parágrafo?
Não se faz nenhuma ligação cronológica entre Ford e a primeira loja de McDonalds!
Abração
Daniel, tu conhece a célebre frase de Henry Ford que me referi?
E como se fosse o Ordem e Progresso na "bandeira" do fordismo! heheheh
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