terça-feira, 28 de novembro de 2006

Avenida Ironia sem número

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Ela é a principal via de Caxias. Pelo menos para os pedestres. A avenida Julio de Castilhos corta o centro. Corta o meu coração. Me dá uma baita tristeza caminhar e observar as pessoas da cidade. A avenida Julio é repetitiva. Farmácia, pedinte, financeira, farmácia, pedinte, financeira. Elas se repetem, incomodam e entristecem. Vejo elas como conseqüência uma das outras. Conseqüência com muitas causas. Dinheiro demais, dinheiro de menos. Desejos maiores que as necessidades. Financeiras faceiras alegram as pessoas com juros escravizantes. Parece não haver concorrência entre elas. Todas ganham. Aposentandos são alvos das garras das financeiras. Garras que vão além das portas. Invadem as calçadas. Distribuem folhetos multicoloridos. Fotos com desejos.

As farmácias estão tão próximas umas das outras. Embaralhadas com as financeiras, elas nos prometem a cura. A "cura" dos males. Paliativos que eliminam a dor, os sintomas e nos colocam de pé para o trabalho. Farmácias vendem drogas caras. Financeiras emprestam dinheiro caro. Financeiras e farmácias enriquecem. E o povo fica pobre.

Pobres pedintes na avenida Julio querem o troco. Pode ser o troco da farmácia. Sentados, estendem as mãos. Pedem por favor, pelo amor, por Deus. Alguns doentes e outros sadios pedem moedas, reais. Seres reais, humanos precisam de saúde e dinheiro. Sentam-se na porta da farmácia ao lado da financeira.

É uma avenida de ironias, de destinos, de alegrias e de tristezas, de prazer e desprazer. A vida é uma avenida. Essa avenida podia ter menos farmácias, financeiras e pedintes. Menos drogas, juros e miséria.

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