quinta-feira, 19 de outubro de 2006

Gosto do novo

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O brasileiro tem uma particularidade interessante. Tem xodó pelo novo. Compra carro zero km por causa do cheiro de novo. Já vi gente pensando em engarrafar esse cheiro. Não duvido de nada. Novo! Bom Ar Carro Novo. Brasilia 70 e lá vai bico, não vai mais ter cheiro de gasolina e sim CHEIRO DE CARRO NOVO.

Se tem dois cremes dental no supermercado e um deles diz Novo, eu compro, mesmo que a novidade seja a embalagem que tem 15 g a menos e o mesmo preço da velha. A cerveja ruim se transforma numa delícia quando acompanhada de Nova. Nova Schin!

Em 1937, Getúlio Vargas não satisfeito com o governo funda o Estado Novo. O cinema brasileiro ressurge com o Cinema Novo. Em 1967 nossa moeda passa de Cruzeiro para Cruzeiro Novo. O novo desta vez significou o corte de 3 zeros. Mais um corte de 3 zeros e o Cruzado passa a ser Cruzado Novo. Isso ocorreu em 1989, se não me falha a memória, no governo do novo e desconhecido presidente Collor.

Novo, nova, neo, new! Tem revista que se chama Nova. Nela a nova mulher moderna fica sabendo as novas formas de manter fiel seu novo marido. As pessoas mais velhas estão se interessando pelas mais novas. Para as mais novas, tudo isso é novidade. E como gostam do novo acabam também se interessando pelos mais velhos.

A candidata ao governo do Rio Grande do Sul tem se utilizado muito do novo. Ela quer um novo Rio Grande. Vai governar de uma nova maneira. O povo gosta do novo, mesmo sabendo que vai ser a mesma forma velhaca de governar. Cansada do velho, um grupo de conservadores começa a pensar algo novo para a sociedade. O novo vem com força total no mandato da toda-poderosa Margareth Tatcher, primeira ministra inglesa. O velho mundo conhece o novo liberalismo ou o nefasto neoliberalismo. A Al Qaed preferiu a Nova Iorque para seu principal atentado. O motivo foi velho. Nova, foi a audácia.

Pode-se dizer que o gosto pelo novo é natural do ser humano. Porém, o novo nem sempre é melhor. Bem pelo contrário, o novo às vezes é roupa nova para o velho. Absorvemos o novo, consumimos o novo. Pode-se dizer que o consumo e a novidade caminham juntos. O novo creme dental é mais consumido. O novo tem propaganda, tem marketing. Deseja-se o novo. Muitos desejam o novo tênis da Nike. Não é mais novidade nenhuma o garoto que teve o seu novo Nike roubado. Ele não foi roubado foi desejado. O novo habita a vaidade. O novo é o crime.

O cheiro de carro novo, o creme dental novo, a cadidata e sua nova solução, a nova cerveja, o tênis novo, a nova forma de exploração, tudo novo, roupa nova. Do que adianta tudo isso. Não precisamos desse novo. O novo somos nós, apesar de preferirmos o velho.

1 comentários:

Anônimo disse...

A novidade era o máximo do paradoxo estendido na areia...

abraço!
fabiano