segunda-feira, 12 de dezembro de 2005

Aflição ou dignidade


Ford vai controlar ida de funcionários ao banheiro
Esses dias recebi a informação que a Ford vai fechar fábricas e demitir funcionários porque está devendo muita grana.


Agora, a notícia que a Ford vai controlar a ida de funcionários ao banheiro. E me pergunto o que está acontecendo com a gente? Não somos nós os donos do nosso destino? Seres humanos controlando seres humanos. O que é isso?!

As empresas, principalmente as ‘gigantes’, estão sugando totalmente os seus recursos humanos. Os recursos naturais já foram para o espaço. Os seres humanos, como as grandes empresas consomem de maneira frénetica. Para que pressa? Onde pensamos que estamos indo com tanta pressa.

Controlar a ida dos funcionários ao banheiro, poxa, que legal, mais uma idéia genial. Lembremos da ‘reengenharia’ e o seu sucesso. Não podemos perder tempo no banheiro! “Tempo é dinheiro.” Precisamos fabricar mais produtos que talvez nem poderemos um dia comprar.

Banheiro! Oh! O Banheiro. É o meu lugar preferido para passar algumas horas. Ah! Se pudesse levaria a minha família. Hoje, vou almoçar com a minha família no banheiro da Ford. O banheiro de lá é muito legal. Eu mato trabalho só para ficar naquele lindo lugar. Têm flores, cachoeiras, passarinhos... Nas minhas férias vou acampar lá.
Falando sério...

Desde a Revolução Industrial, criada pelos homens, nos deparamos com uma ‘corrosão’ generalizada. Estamos corroendo nossa saúde, nosso caráter e nossa dignidade. O trabalho está se caracterizando como uma forma aflição e não como uma forma de dignidade.Trabalho dignifica sim, mas não dessa forma.

A Ford encontrou no tempo que seus funcionários passam no banheiro um ‘bode expiatório’ para a sua própria crise, porém será que a crise reside aí? O crise não estaria na desigualdade social, poder aquisitivo em constante redução e principalmente na super frota de veículos nas ruas e estradas. A crise transforma o trabalho em sofrimento. Forma-se dessa forma um ciclo vicioso e um perigoso risco para a nossa sobrevivência.

Acompanhe alguns trechos desses importantes pesquisadores sobre o trabalho moderno
Segundo Simone Weil “O sofrimento corresponde aos sentimentos obscuros, inatingíveis, inexpressíveis, que se apoderam da alma durante o trabalho”.

Wisner (1994) sublinha os sinais de sofrimento psíquico como:
- Expressão verbal
- Comportamento neurótico
- Enfermidades psicossomáticas

Vinculados aos aspectos específicos de certos grupos de tarefa. Esses aspectos caracterizam modalidades perigosas de organização. Dentre eles podemos citar:
- trabalhadores sob a exigência de tempo
- situações de conflito
- uso de códigos múltiplos
- tarefas freqüentemente interrompidas
- aceleração mental induzida

Cruz (2003) questiona a necessidade de discussão do conceito organização do trabalho. Segundo o autor, esta compreende a organização técnica e formal dos processos de produção, bens e serviços. A organização do trabalho provoca “constrangimentos” aos trabalhadores, isto é, a ausência de autonomia e liberdade para sentir, pensar e fazer.

Dejours (1988:25) designa por organização do trabalho, a “divisão do trabalho, o conteúdo da tarefa, o sistema hierárquico, as modalidades de comando, as relações de poder, as questões de responsabilidade entre outros”.Na leitura Dejouriana, o sofrimento do trabalho se expressa em duas vertentes, a saber: Insatisfação e ansiedadeO sentimento de insatisfação é experimentado maciçamente pela classe operária:
- O da vergonha de ser robotizado
- De ser um apêndice de máquina
- De ser sujo
- De não ter imaginação ou inteligência
- De estar despersonalizado

É do contato forçado com uma tarefa desinteressante que surge a imagem de indignidade.· O sentimento de inutilidade, outra vivência da insatisfação remete a ausência de qualificação e finalidade do trabalho, configurando assim, no desconhecimento da própria significação do trabalho.· Outra fonte de insatisfação resulta da inadequação do conteúdo ergonômico do trabalho ao homem. Origem de numerosos sofrimentos somáticos e do aparelho mental.

A notícia “Ford vai controlar ida de funcionários ao banheiro” foi veiculada no dia 27 de outubro de 2005 no saite Invertia.

4 comentários:

Anônimo disse...

pois é, mas cadê a solução, disso "até" eu que sou gari sabia

Lêandro disse...

A solução está em cada um.

Tuto... disse...

já dá pra montar um livro de auto-ajuda, tudo lenga lenga de intelectual, acordem! O mundo está aí todo deformado, seria melhor se além de pensarem nos seus umbigos pensassem no dos outros. Logico que é o que fazemos com nosso tempo, é óbvio e superficial, mas mesmo assim se quiser trabalhar na ford terá que aceitar as cameras... Bem vindo ao mundo dos que não tem escolha...
Não abraço por que estou sujo.Mas desejo boa sorte a sua filosofia, espero estar errado, vai ser muito mais fácil viver em paz comigo mesmo e com meu umbigo.

Ass:o anonimo que não pode preservar sua identidade.

Lêandro disse...

Agradecido por indicarem que o texto é óbvio. Mas como todos, estamos cada vez mais perplexo com o mundo que vivemos. O que fazer? Todos os dias nos perguntamos para onde vamos? Por que as coisas são como são? Não podemos mudá-las? Individualmente não mudaremos nada a não ser nossa paz de espírito.

Muito agradecido